Foi aquele sorriso que me tirou o prumo, o coração
do peito, e o sangue esquentar em cada parte de mim.
Um
corpo mentiroso, que te dizia nunca ter sido tocado, como se ainda inocente
fosse, e tu o primeiro da vida, a virilidade que talvez eu jamais esquecesse,
era quente, tua pele era quente, teu cheiro era natural, mas teu beijo era quase
infantil, e o brilho dos olhos revelava a tua alma juvenil.
Despiu-se
diante do meu nervosismo, retirou a capa de menino e ali se fez homem, aquele
tipo de homem que quase toda mulher ainda há de carregar na lembrança, que te
fez suar, gritar e sentir dor; o sangue ali nos teus lençóis escorria como
fonte do que me fizera, era então mulher, por só um pequeno instante, mas tua
mulher, com o corpo em chamas da dor, e na boca o sorriso que havia me
colocado.
Nos
teus braços ali estava, cansada, risonha e suada, acariciada pelas tuas mãos,
segura no teu peito nu e embalada pelas batidas do teu peito. Não me fez
promessas, nem mesmo jurou amor ou paixão, apenas me mantinha e me possuía com
tesão, mais nada, e nos lábios apenas um beijo e um sorriso safado que me tomou
os pensamentos.
O
relógio não parou em nenhum momento, o sol ia embora devagar, o cheiro do chá
de camomila invadia o espaço preguiçoso, e os minutos passando e eu ali, parada
em teu olhar, encantada em ti.
A
hora do “adeus, até logo” sempre vem, e veio, o abraço agora vestido em
algodão, banho e perfume, era a despedida do teu corpo, do teu rosto, e eu sabia
que não seria fácil levar os dias sem saber dos teus passos e pensamentos,
tinhas me feito tua, em uma tarde ensolarada, num quarto pequeno e quente, é,
havia acontecido o que eu temia, apaixonada em um amor livre.
Mesmo
de longe ele dominava, me fazia cantiga e poesia por telepatia, mensagem e voz,
não o via, só lia e ria; e quem diria, aquele que me sugou menina e transformou
mulher seria o dono de cada pedaço de pensamento meu, pele e coração.
As
estações voam, o sol se põe, luas aparecem e ele foi amando, pessoa por pessoa,
sem se apegar em gênero, cor, amor ou sabor, ele só toca corpos, corpos sem
compromisso, e ainda assim me diz que sente saudade, mas é uma saudade que só o
mundo dele capta e entende, é um cidadão do mundo em terra de malucos, ele ama
do jeito dele, e nem mesmo eu sei entender, porém alma é assim, a gente não
compreende e acaba por sofrer sozinha, quietinha, num lugar fundo da razão onde
quem manda é a tal da emoção.
Hoje
estou aqui, meio amando, meio apaixonada, meio sofrendo, meio querendo, meio
que esperando por ele para ser eu mesma outra vez.