sábado, 14 de fevereiro de 2015

E eu que só queria



E eu que só queria companhia, um amor daqueles em fim de semana, alguém com quem rir e também gemer, acariciar e arranhar, eu só queria.
            Um final de tarde, inicio de noite e cheiro de sabonete, banho tomado, televisão ligada, abraço tímido e quente, era só o que eu queria, queria sussurro no ouvido, mão na cintura, arrepio na nuca, eu não procurava amor, eram os hormônios, era pele, eu só queria a noite, a cama dele, era só o que eu queria.
            E tive, tive mensagem de bom dia, agrados na tarde, celular tocando, sorriso safado no rosto, frio na barriga, isso, isso eu tive, eu queria. A noite veio, os olhos brilharam, as borboletas voam rapidamente dentro de mim, eu sentia cada bater de asas, o coração subia até a boca e voltava a se acalmar no peito, um peito sem vergonha, sem dono, com marcas e cicatrizes, mas já era meu, me pertencia.
            O ar do quarto era quente, verão, cheiro de gente, de pele tocando, respiração embalada em dueto, tinha carinho, tesão, calor, ardia mas não doía, era sexo, eram dois, eram um, e eu só queria aquela noite, só aquela.
            Sono cansado, gostoso, de dormir sorrindo, nus, abraçados e pernas entrelaçadas, e eu que só queria teu corpo, teu cheiro, uma noite.
            Sol que acorda os que dormem, reflete no rosto, carinho no corpo suado do amor, ou quase amor, de promessas de apenas um só luar, de alguns poucos beijos, e de muitos gemidos. A água cai e limpa os vestígios teus no corpo, e eu que só queria um café forte, uma pegada apenas, só, era só isso.
            Dias passam e eu que só queria uma noite tua, uma promessa vazia, uma cara sem vergonha, acabei querendo as horas, as semanas, teu tempo inteiro, teus pensamentos completos, teus carinhos com amor, queria paixão, tua cama outra vez, tuas mãos no meu peito arrancando tudo o que havia. E eu que só queria teu “Bom dia, te ligo, e marcamos algo!”, passei a querer “Como foi seu dia? Sinto saudades, te quero de novo! Sou todo teu e de mais ninguém!”, acabei recebendo uma amizade meio fria, um sexo seco, com tesão, e rapidez, e um silencioso nunca mais, foi bom enquanto durou, dói, vai doer, e como vai, e só eu sei.
            Passo os dias lendo as boas lembranças, vomitando saudade, chorando e lembrando do teu corpo marcado junto do meu, das mãos no cabelo, do perfume natural da tua pele, e das promessas vazias e cafajestes.
            E eu que só queria aventura, fiz morada na solidão dos sentimentos não recíprocos, te lembrando e lembrando, e hoje a forasteira criou raízes, sem frutos, só choro, amando sozinha, sofrendo sozinha, sendo eu mesma, sozinha.
            Dizem que só se sofre se caso quer, mas não é o que eu queria. Tudo passa, amor quando dolorido e vivido por um, uma hora faz as malas e dá adeus, coração vira novamente sem vergonha, livre, sem dono, e sendo cafajeste, como deve ser o frescor das experiências da vida adulta mas quase juvenil.
            Uma hora se esquece, e eu sei que aquelas promessas na carência de um homem podem voltar, não nego ao meu corpo a volta ao teu, e de experimentar de novo toda safadeza alegre que eu me permiti sentir contigo um dia, só que ausência toma espaço, e vira buraco, vira vazio. Ainda vou querer, sonhar, lembrar, sorrir, e sofrer quietinha, num banho gelado, sozinha.

            Foi, vai ser, mas e quem diria que eu só queria.

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