Teus cabelos fogo e teu olhar de gelo, tua pele
pálida e cheia de calor, sorriso tímido de menino, tua vergonha diante de uma
mulher. Uma criança em corpo de homem, toque selvagem e doce que me ganhou em
embalos de uma noite escura, música confusa, bebida e caos.
O
fogo dos teus fios era inflamável junto do meu peito, era como gasolina que
escorria em cada pedaço de pele, a respiração pesada, e as mãos que acariciavam
os espinhos de cada pedaço meu. Era paixão, palavra doce e ardida, e
logo eu, já mulher perdida nos encantos de apenas um menino, o menino do olhar
azul e dos cabelos cor de fogo e traços de garoto.
Me
apaixonei pela criança, pelas gargalhadas e a voz grave que nem mesmo sua
parecia ser, me vi quebrada como falso diamante, e cada sussurro eu ficava mais
tua sem notar; eu era dele, e ele nunca havia sido meu, nem mesmo nas noites
silenciosas embaladas por nossos gemidos ao pé do ouvido.
A
noite e a boemia eram minhas, sempre foram e me pertenceram, dama da bebida e
música lenta, fumaça do cigarro, e a loucura dos alucinógenos, porém, quando
tua imagem surgia, voltava a adolescência, insegura e com as pernas bambas, eu tão
mulher e novamente menina aos teus pés.
O
último toque foi a despedida de um soneto, o beijo suave que talvez jamais me
dera antes, e então voltava a minha forma de fêmea, com o copo na mão, o
coração nos braços, e a tristeza quieta no peito. Tua risada ainda ecoa em
partes do meu ser, ainda recordo das palavras ditas nos silêncios dos teus
olhos de gelo, escondidos no teu cabelo laranja cor de fogo.
Hoje
só resta chamuscados, poeira leve da fogueira que se apagou, e a cada breve
encontro, a tal gasolina insiste em escapar de mim e escorrer, procurando em
algum lugar uma chama acessa, esperando pelo teu toque inflamável. Não arde
mais, não queima mais, mas as cicatrizes ficaram, curaram, fecharam.
Os
meses vão passar, e talvez eu ainda venha a me recordar dos teus cabelos
laranja fogo, do teu olhar azul, e da tua boca de armadilhas.
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