domingo, 15 de fevereiro de 2015

Laranja Fogo

Teus cabelos fogo e teu olhar de gelo, tua pele pálida e cheia de calor, sorriso tímido de menino, tua vergonha diante de uma mulher. Uma criança em corpo de homem, toque selvagem e doce que me ganhou em embalos de uma noite escura, música confusa, bebida e caos.
            O fogo dos teus fios era inflamável junto do meu peito, era como gasolina que escorria em cada pedaço de pele, a respiração pesada, e as mãos que acariciavam os espinhos de cada pedaço meu. Era paixão, palavra doce e ardida, e logo eu, já mulher perdida nos encantos de apenas um menino, o menino do olhar azul e dos cabelos cor de fogo e traços de garoto.
            Me apaixonei pela criança, pelas gargalhadas e a voz grave que nem mesmo sua parecia ser, me vi quebrada como falso diamante, e cada sussurro eu ficava mais tua sem notar; eu era dele, e ele nunca havia sido meu, nem mesmo nas noites silenciosas embaladas por nossos gemidos ao pé do ouvido.
            A noite e a boemia eram minhas, sempre foram e me pertenceram, dama da bebida e música lenta, fumaça do cigarro, e a loucura dos alucinógenos, porém, quando tua imagem surgia, voltava a adolescência, insegura e com as pernas bambas, eu tão mulher e novamente menina aos teus pés.
            O último toque foi a despedida de um soneto, o beijo suave que talvez jamais me dera antes, e então voltava a minha forma de fêmea, com o copo na mão, o coração nos braços, e a tristeza quieta no peito. Tua risada ainda ecoa em partes do meu ser, ainda recordo das palavras ditas nos silêncios dos teus olhos de gelo, escondidos no teu cabelo laranja cor de fogo.
            Hoje só resta chamuscados, poeira leve da fogueira que se apagou, e a cada breve encontro, a tal gasolina insiste em escapar de mim e escorrer, procurando em algum lugar uma chama acessa, esperando pelo teu toque inflamável. Não arde mais, não queima mais, mas as cicatrizes ficaram, curaram, fecharam.

            Os meses vão passar, e talvez eu ainda venha a me recordar dos teus cabelos laranja fogo, do teu olhar azul, e da tua boca de armadilhas.

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