domingo, 19 de julho de 2015

Meu ex-amado


            Existem pessoas que nos encantam aos olhos e corpo desde o primeiro olhar, fotografia, respiração, e comigo não foi diferente, foram flashs que se passaram, um rosto que passou por mim e ficou comigo, não esqueci. Eu já estava em um processo final de paixão, uma pequena tormenta que virava amizade, e veja a coincidência, aquele olhar breve seria meu mais novo (grande) amado.
            Nossas vidas se cruzaram por um acaso do destino, por laços que entrelaçaram, nossas trajetórias iriam se ligar, e todo sentimento que estava por surgir iria ser um dos mais intensos da minha vida, aquele arrematador, amor, paixão, tesão, sofrimento, raiva, ciúmes, um misto de tudo que todo ser humano precisa viver uma vez.
            Jamais esqueço, noite de ano novo, e algo me dizia que coisas novas estavam por me invadir, e meu sexto sentido de bruxa não falhou, trocamos contato pela primeira vez, acho que não havia sentido algo assim tão forte e louco, era mais que coração pois a pele arrepiava, cada mensagem trocada se tornava algo que me tomava por inteiro, e as vezes me sentia adolescente novamente.
            Aquele corpo moreno, tatuado, um templo decorado e que me desejava da forma mais quente que fogo, era fogueira acedendo nos olhares trocados. Mãos fortes e me tocavam com força, um homem que me fez sentir mulher em todos os sentidos, o sentia em cada parte de mim, era saliva, suor, ardor, intensidade. Infelizmente eu sabia o pós de tudo o que acontecia, seriam marcas físicas e internas, algo que carregaria por longos meses, e talvez não fosse fácil me livrar.
            Meu corpo já era dele, meu coração já era dele, minha pele já era dele, minha alma já era dele, eu era completamente dele, e ele sem saber já me pertencia. Me tornei animal irracional, chorava de raiva porque o queria dentro de mim todos os dias e horas, sonhava com aquela boca percorrendo todos os cantos do meu ser, ouvia no silêncio do meus pensamentos os seus gemidos, gritos, abafados ao pé do meu ouvido, seus dentes na minha pele, e eu tão minha que sempre fui, me perdi, e não mais encontrava o caminho para voltar a lucidez.
            Meu amado, meu tesão, meu desejo. Queria como amigo, daqueles que se bebe junto e morre de rir em um sofá qualquer com um filme caricato na TV, queria como meu homem na cama sussurrando o quanto o nosso sexo era diferente, tremiam as pernas e as paredes, e suávamos como animais em um ritual de acasalamento, não falávamos nada, eram olhares e respiração, e só isso nos completava.
            A vida não me foi justa, não me deu aquele coração, simplesmente me fazia um empréstimo de tudo o que era vivido, e ele ia embora aos poucos e meu sofrimento aumentava, e então percebi que todo tesão, todo sexo havia se tornado amor, aquele sentimento que eu fugia e enfim me pegou, bateu e fez sangrar até quase morrer.
            Enterrei tudo várias e várias vezes, afundei no meu próprio eu para não mais sentir, mas certas coisas não se consegue esconder, são quase imortais.
            Pelos dias chuvosos, garrafas de vinho e choro, libertei-me, finalmente, liberta, abri minha alma em mensagens, disse tudo que me sufocava, consegui arrancar aquele amor doente onde me fiz mais mulher, mais humana e animal também, foram as palavras mais dificies de dizer, o poema de rua mais vagabundo, mas eu disse, e como uma grata surpresa ele respondeu, respondeu como homem que é, aquele mesmo homem que entrava em mim e me fazia mais e mais, e no fim acabou, já não era o mesmo, e tornou-se meu ex-amado.
            Acabou, mas sempre será.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Ele


Foi aquele sorriso que me tirou o prumo, o coração do peito, e o sangue esquentar em cada parte de mim.
            Um corpo mentiroso, que te dizia nunca ter sido tocado, como se ainda inocente fosse, e tu o primeiro da vida, a virilidade que talvez eu jamais esquecesse, era quente, tua pele era quente, teu cheiro era natural, mas teu beijo era quase infantil, e o brilho dos olhos revelava a tua alma juvenil.
            Despiu-se diante do meu nervosismo, retirou a capa de menino e ali se fez homem, aquele tipo de homem que quase toda mulher ainda há de carregar na lembrança, que te fez suar, gritar e sentir dor; o sangue ali nos teus lençóis escorria como fonte do que me fizera, era então mulher, por só um pequeno instante, mas tua mulher, com o corpo em chamas da dor, e na boca o sorriso que havia me colocado.
            Nos teus braços ali estava, cansada, risonha e suada, acariciada pelas tuas mãos, segura no teu peito nu e embalada pelas batidas do teu peito. Não me fez promessas, nem mesmo jurou amor ou paixão, apenas me mantinha e me possuía com tesão, mais nada, e nos lábios apenas um beijo e um sorriso safado que me tomou os pensamentos.
            O relógio não parou em nenhum momento, o sol ia embora devagar, o cheiro do chá de camomila invadia o espaço preguiçoso, e os minutos passando e eu ali, parada em teu olhar, encantada em ti.
            A hora do “adeus, até logo” sempre vem, e veio, o abraço agora vestido em algodão, banho e perfume, era a despedida do teu corpo, do teu rosto, e eu sabia que não seria fácil levar os dias sem saber dos teus passos e pensamentos, tinhas me feito tua, em uma tarde ensolarada, num quarto pequeno e quente, é, havia acontecido o que eu temia, apaixonada em um amor livre.
            Mesmo de longe ele dominava, me fazia cantiga e poesia por telepatia, mensagem e voz, não o via, só lia e ria; e quem diria, aquele que me sugou menina e transformou mulher seria o dono de cada pedaço de pensamento meu, pele e coração.
            As estações voam, o sol se põe, luas aparecem e ele foi amando, pessoa por pessoa, sem se apegar em gênero, cor, amor ou sabor, ele só toca corpos, corpos sem compromisso, e ainda assim me diz que sente saudade, mas é uma saudade que só o mundo dele capta e entende, é um cidadão do mundo em terra de malucos, ele ama do jeito dele, e nem mesmo eu sei entender, porém alma é assim, a gente não compreende e acaba por sofrer sozinha, quietinha, num lugar fundo da razão onde quem manda é a tal da emoção.
            Hoje estou aqui, meio amando, meio apaixonada, meio sofrendo, meio querendo, meio que esperando por ele para ser eu mesma outra vez.



domingo, 15 de fevereiro de 2015

Laranja Fogo

Teus cabelos fogo e teu olhar de gelo, tua pele pálida e cheia de calor, sorriso tímido de menino, tua vergonha diante de uma mulher. Uma criança em corpo de homem, toque selvagem e doce que me ganhou em embalos de uma noite escura, música confusa, bebida e caos.
            O fogo dos teus fios era inflamável junto do meu peito, era como gasolina que escorria em cada pedaço de pele, a respiração pesada, e as mãos que acariciavam os espinhos de cada pedaço meu. Era paixão, palavra doce e ardida, e logo eu, já mulher perdida nos encantos de apenas um menino, o menino do olhar azul e dos cabelos cor de fogo e traços de garoto.
            Me apaixonei pela criança, pelas gargalhadas e a voz grave que nem mesmo sua parecia ser, me vi quebrada como falso diamante, e cada sussurro eu ficava mais tua sem notar; eu era dele, e ele nunca havia sido meu, nem mesmo nas noites silenciosas embaladas por nossos gemidos ao pé do ouvido.
            A noite e a boemia eram minhas, sempre foram e me pertenceram, dama da bebida e música lenta, fumaça do cigarro, e a loucura dos alucinógenos, porém, quando tua imagem surgia, voltava a adolescência, insegura e com as pernas bambas, eu tão mulher e novamente menina aos teus pés.
            O último toque foi a despedida de um soneto, o beijo suave que talvez jamais me dera antes, e então voltava a minha forma de fêmea, com o copo na mão, o coração nos braços, e a tristeza quieta no peito. Tua risada ainda ecoa em partes do meu ser, ainda recordo das palavras ditas nos silêncios dos teus olhos de gelo, escondidos no teu cabelo laranja cor de fogo.
            Hoje só resta chamuscados, poeira leve da fogueira que se apagou, e a cada breve encontro, a tal gasolina insiste em escapar de mim e escorrer, procurando em algum lugar uma chama acessa, esperando pelo teu toque inflamável. Não arde mais, não queima mais, mas as cicatrizes ficaram, curaram, fecharam.

            Os meses vão passar, e talvez eu ainda venha a me recordar dos teus cabelos laranja fogo, do teu olhar azul, e da tua boca de armadilhas.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

E eu que só queria



E eu que só queria companhia, um amor daqueles em fim de semana, alguém com quem rir e também gemer, acariciar e arranhar, eu só queria.
            Um final de tarde, inicio de noite e cheiro de sabonete, banho tomado, televisão ligada, abraço tímido e quente, era só o que eu queria, queria sussurro no ouvido, mão na cintura, arrepio na nuca, eu não procurava amor, eram os hormônios, era pele, eu só queria a noite, a cama dele, era só o que eu queria.
            E tive, tive mensagem de bom dia, agrados na tarde, celular tocando, sorriso safado no rosto, frio na barriga, isso, isso eu tive, eu queria. A noite veio, os olhos brilharam, as borboletas voam rapidamente dentro de mim, eu sentia cada bater de asas, o coração subia até a boca e voltava a se acalmar no peito, um peito sem vergonha, sem dono, com marcas e cicatrizes, mas já era meu, me pertencia.
            O ar do quarto era quente, verão, cheiro de gente, de pele tocando, respiração embalada em dueto, tinha carinho, tesão, calor, ardia mas não doía, era sexo, eram dois, eram um, e eu só queria aquela noite, só aquela.
            Sono cansado, gostoso, de dormir sorrindo, nus, abraçados e pernas entrelaçadas, e eu que só queria teu corpo, teu cheiro, uma noite.
            Sol que acorda os que dormem, reflete no rosto, carinho no corpo suado do amor, ou quase amor, de promessas de apenas um só luar, de alguns poucos beijos, e de muitos gemidos. A água cai e limpa os vestígios teus no corpo, e eu que só queria um café forte, uma pegada apenas, só, era só isso.
            Dias passam e eu que só queria uma noite tua, uma promessa vazia, uma cara sem vergonha, acabei querendo as horas, as semanas, teu tempo inteiro, teus pensamentos completos, teus carinhos com amor, queria paixão, tua cama outra vez, tuas mãos no meu peito arrancando tudo o que havia. E eu que só queria teu “Bom dia, te ligo, e marcamos algo!”, passei a querer “Como foi seu dia? Sinto saudades, te quero de novo! Sou todo teu e de mais ninguém!”, acabei recebendo uma amizade meio fria, um sexo seco, com tesão, e rapidez, e um silencioso nunca mais, foi bom enquanto durou, dói, vai doer, e como vai, e só eu sei.
            Passo os dias lendo as boas lembranças, vomitando saudade, chorando e lembrando do teu corpo marcado junto do meu, das mãos no cabelo, do perfume natural da tua pele, e das promessas vazias e cafajestes.
            E eu que só queria aventura, fiz morada na solidão dos sentimentos não recíprocos, te lembrando e lembrando, e hoje a forasteira criou raízes, sem frutos, só choro, amando sozinha, sofrendo sozinha, sendo eu mesma, sozinha.
            Dizem que só se sofre se caso quer, mas não é o que eu queria. Tudo passa, amor quando dolorido e vivido por um, uma hora faz as malas e dá adeus, coração vira novamente sem vergonha, livre, sem dono, e sendo cafajeste, como deve ser o frescor das experiências da vida adulta mas quase juvenil.
            Uma hora se esquece, e eu sei que aquelas promessas na carência de um homem podem voltar, não nego ao meu corpo a volta ao teu, e de experimentar de novo toda safadeza alegre que eu me permiti sentir contigo um dia, só que ausência toma espaço, e vira buraco, vira vazio. Ainda vou querer, sonhar, lembrar, sorrir, e sofrer quietinha, num banho gelado, sozinha.

            Foi, vai ser, mas e quem diria que eu só queria.

domingo, 21 de setembro de 2014

O batom vermelho dela


O batom vermelho dela é arma de fogo, quando ela usa se transforma, vira deusa de si mesma, feiticeira do próprio tempo. O carmim é magia, trás um poder que só ela sabe e sente, encanta e assusta, é tanto empoderamento que reluz o fogo dos lábios e o tesão que já não cabe mais na cabeça, corpo e coração.
            O batom vermelho dela é o poder do seu útero na boca, tem energia ancestral, é Deus e o Diabo em uma descrição profunda do seu Ser, tem a doçura dos querubins e o segredo das bruxas. Ela faz viver e matar somente com o pulsar do seu sangue, e tudo vira loucura.
            O batom vermelho dela é o olhar hipnotizante da serpente, mata e cura. O pintar dos seus lábios é um ritual sagrado, faz a menina virar mulher, e não há quem resista, é como o veneno sem sabor e odor, ele simplesmente invade cada parte do seu corpo, gela, enrijece e por fim mata, mas mata de amor, paixão, um ardor que provoca o calor.
            O batom vermelho dela é sua arma, e assim ela vive. Ela e o batom vermelho dela.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Olha pra ela


Olha pra ela, escondida em um sorriso forçado, numa felicidade montada, a realidade de uma garota cheia de sentimentos e vazia no amor. Ela faz os olhos de qualquer um brilharem, mas os seus próprios foram apagados, como se costurados com arame, presos em um infinito de palavras trancadas na garganta. O que esconde? De quem esconde? E pra que esconde? Uma inteligência que extravasa qualquer situação, circunstância e compreensão, ela vai além do que você imagina, ela é além do que ela própria pensa que é. Os medos estão entranhados na sua pele fina e delicada, ela pede socorro todos os dias ao acordar, mas ninguém ouve, ninguém vê, lá está ela, presa dentro de si mesma e do que sente. Apenas existindo, é assim que sobrevive; não sabe o que é viver, nunca lhe deram a oportunidade, nasceu de asas, mas foram cortadas no primeiro voo, tento construir novos pares, todos foram queimados, todos. A cobrança parte de dentro para fora e vice versa, ela se cobre de pensamentos, se refugia em um caderninho de pequenos suicídios, morre um pouquinho toda manhã, renasce a cada tentativa, e acaba definhando de novo, é assim, triste, sem brilho interno, opaca. Se joga em pequenos grandes amores, leva tombos que nem mesmo o mais forte dos homens iria resistir, mas levanta, tenta dar 3 passos, e acaba retornando mais 5, e de 8 e 8 passos arrisca 1, e do cansaço já parou de contar as derrotas do seu coração. Olha ela, tão meiga e tão forte, tão forte e mesmo assim fraca, fraca internamente e tenta passar a força física que lhe restou. E lá continua ela, existindo, apenas tentando sobreviver, e mover as pedras que alguém colocou para seus tropeços.

Os vicios de um deprimido


Como todo depressivo, descobri que as madrugadas não foram feitas para os sonhos, mas para pensar, ficar em claro com as pupilas em movimentos quase ritmados em um ballet sofrido. A cama ali, vazia, fria, e espaçosa demais para um corpo tão gelado e pequeno, e como se fosse a interpretação de um coração incompleto, que em uma volta qualquer no quarteirão escuro e da rua sem saída tivesse deixado uma parte por lá. Há sentimentos que nos tomam nessas noites enlouquecedoras, porém sem explicação, definição, apenas estão vivos, ou mortos, como bem queira sua compreensão. Cada ruído do ponteiro do relógio acaba tornando-se um badalar de um sino de igreja em uma cidade fantasma, como correntes espíritos atormentados, são calafrios, o suor gelado, a cabeça perturbada com o vazio e a mistura do tudo. A solidão é a tarde cinza e chuvosa de um inverno qualquer, hipnose, a palidez de um anjo da escuridão, que transparece beleza e sofrimento em uma definição única. A tristeza aos poucos acaba sendo o vicio dos abandonados pelo amor, que o deixaram escapar pelos dedos, é como água gelada em superfícies quentes, acaba sumindo, evaporando; esse vicio é como a cocaína, o êxtase é rápido, volúvel, e a abstinência a pior das sensações, e esse ciclo alonga-se nos corações, como veias entupidas, o sangue deseja correr mas não consegue e então, EXPLODE, e faz a cor viva do vermelho-bordô se sobre sair, derrama, mancha, e pinta a escuridão.
A solidão é o amigo dos deprimidos, a tristeza o vicio dos pseudo suicidas, e a noite o refúgio dos recuados.